– ‘tô com dor na lombar.
– Olha a margem.
– Segundo o médico: “Ih, alérgica? Andou espirrando ou tossindo por esses dias? Isso costuma dar pressão no canal da medula, provocando muita dor. Além do mais, você é magrinha, não tem carne para segurar a pressão.”
– Olha a margem! Mas você deve ter ficado bem feliz com “você é magrinha”. O cara pode dar uma semana de vida, desde que feita a ressalva.
– Hahahahahahahahaha fiquei mesmo. É impressionante o poder da palavra “magrinha” sobre uma mulher.
– Pois é, se eu vou lá, o cara abre a porta e “OOOORCAAAAA!”
– Hahaha besta. Mas você é homem, com mulher é mais sério.
– “Eu tô com dor na unha.” “Deve ser o peso.” “Tenho caspa!” “É o peso!”
– Hahahahahaha
– É complicado ser ogro.
– Nem é assim. Bobo.
– Se bem que, diante do movimento pela valorização do ogro, eu até me animo.
– Se você fosse mulher, ia ver.
– Olha, se eu fosse mulher, seria uma baranga de dar gosto, uma referência.
– Hahahahahaha “baranga de dar gosto” hahahahahaha
Globo.com, 2 de Maio: Canal a cabo exibe filme pornô no lugar de desenho infantil nos EUA
É impossÃvel não lembrar do episódio pelo qual passei com a trupe nerd em 1994, durante o evento promovido pela editora no Barrashopping, lançando a nossa revista sobre animação. Durante uma semana apresentamos oficinas de miniaturas, RPG, bugingangas e – naturalmente – animação japonesa. Sendo o responsável pelas gravações um antigo colecionador erótico, a morte estava anunciada: ali, num telão cercado por crianças no meio do shopping, o passado encontrou a brecha. Foi o tempo de ouvir o grito e dar com um dos colegas pálido em frente ao projetor desligado.
É comum que diários – semanários também, eventualmente –, talvez pela deficiência de projeto ou capacitação frente ao prazo requerido, percam a mão na utilização de negrito em chamadas que pedem grande corpo. Não é raro encontrar na própria Folha de S.Paulo, por exemplo – em que pese a sua própria famÃlia tipográfica por encomenda –, os tais exemplos de chamadas grosseiras.
Longe de uma convivência das mais sociais com o meu sobrinho, ainda saio com uma imprevisibilidade para o garoto animado com a nova paixão esportiva:
– Você torce para qual time?
– Olha, não torço pra nada.
Ele deve me achar um tio estranho.
E não é que uma pequena observação confirma a minha insônia crescente desde a opção profissional?
Se há uma definição para artesanal – em qualquer sentido –, aqui está.
A foto é ruim para combinar.
A foto melhora. Só a foto.
Ainda por cima em lata. Abafa.
– Ai, tô fazendo um projeto de revista com um grupo de italianos, mas eles são muito confusos! E sabem pouco de editorial!
– Editorial… saudade.
– ‘tá dando trabalho escolher o conteúdo. Que povo enrolado!
– Ah, sobre os seus conterrâneos, veja que coincidência: estava eu escutando uma seleção de Morricone sábado à noite, quando uma colega ligou, da produção do evento que o está trazendo – e que eu havia esquecido –, pedindo para que eu fizesse um favor e diagramasse às pressas o pequeno guia de referência para os italianos.
– Hahaha legal!
– É especial diagramar, por exemplo, Raggruppamento nella Hall dell’albergo.
– Ui! Cheio de doppias! As letras duplas.
– Ô povo pra ter nome mais caracterÃstico: Ennio Morricone, Maria Travia, Patrizia Giancotti, Francesco de Melis… falta um João da Silva!
– Hahaha
– Segundo o Cláudio, meu nome indica ser brasileiro há quatrocentos anos.
O histórico de brincadeiras sociais pede que haja seriedade agora: falta realmente uma, pelo menos uma boa companhia para trocar idéias ou informações.
E, não, eu não conheço essa pessoa ainda.
Ainda lembrarei do último Dia do Trabalho em que não o fiz.
Powered by WordPress