Na cabine, em leitura atenta durante a noite fria e chuvosa, o segurança empresta beleza e melancolia à rudeza cotidiana.
Não vejo essa delicada exposição da intimidade, por alguns alertada em função das últimas postagens. Como observado há pouco, permito que tais diálogos explorem e divulguem o que de comum nos forma, incluindo vacilos e percalços mundanos. A essa abertura, denomino comunhão e assunção de fraquezas em sua dimensão real, para que não estejam guardadas, remoÃdas e assombrando a cada oportunidade. É o mesmo que espero de todos, incluindo aqueles por mim envolvidos. A vida segue, vamos todos aprendendo e errando, desde que em novos estágios.
No mais, é a graça do blog, a de guinar e alternar segundo o próprio juÃzo verbal.
Com essa tradição para a culpa, não sei como deixei o catolicismo.
Uma:
– Eu lembro de cada coisa, fui uma criança muito impressionável. Tinha um gay baiano que trabalhava lá em casa, muito doido, e eu ficava vendo ele dublar a Rita Cadillac, a Sharon… Era a platéia dele. Como a minha mãe deixava?! Hahahaha
– Medo. Era o seu Barney.
– Hahahahaha pô, ele juntava dinheiro, fazia uns crediários – tinha umas 3 ou 4 tevês, e deixava todas ao mesmo tempo no SBT, no quarto dele, porque odiava a Globo e dizia que era pra ajudar na audiência. Também fazia a minha mãe escrever várias cartas pra lá, dando “dicas” pro SÃlvio – até a sinopse de uma novela, chamada – JURO – “A sola do meu sapato” HAHAHAHAHAHAHAHAHA
– Ouou!
– Juro, Zé! Hoje, eu vejo que não é qualquer um que pode botar filho no mundo. Eu não entendia porque ele era tão esquisito, mas era uma pessoa boa, doce e cozinhava muito bem.
– Não sei bem o que dizer diante disso tudo.
– O nome dele era Leopoldo, mas gostava de ser chamado de Leo hahahahaha. Se falasse o nome, ele ficava mal – é pra você ver como foi a minha vida hahahaha
Outra:
– A minha famÃlia, no Orkut, é a coisa mais linda. Minha tia deixa scraps pro meu tio, falando da filha mais velha e dizendo que nenhum homem a quer. A minha avó viajou com uma sobrinha, que colocou fotos dela (minha avó) no Orkut, ao lado de uma baleia, dizendo que tinha ido visitar a parenta. É uma famÃlia muito elegante, a minha. São todos muito finos.
– ‘tá difÃcil comparar, aqui no MSN, a sua famÃlia com a de outra amiga.
– A famÃlia dela é tão feia quanto a minha? A minha mãe tinha um macaco de estimação.
– Como assim?
– Meu avô que tinha, na verdade. Porque o macaco odiava mulheres e aterrorizava toda a famÃlia. Ele viajava pra caçar e trazia animais pra casa. Eles já tiveram preguiça, jibóia… Uma vez ele me deu um tamanduá. Minha mãe disse que não tinha como criar aquilo num apartamento, e ele disse “Põe na jardineira do terraço. Isso aà cria como galinha” mas minha mãe disse que não queria mais bichos bizarros na vida dela, e meu avô comeu o tamanduá.
– Realmente…
– Era um macaco com muito ódio no coração. Porque ele ficava acorrentado, eu acho. Um dia ele se soltou, entrou na casa, quebrou tudo que encontrou pela frente e fugiu.
– Vem daà a expressão?
– Hahahahaha estar com a macaca? Durante alguns meses a minha avó ouvia umas histórias de que um macaco (não era um mico, era um macaco grande) tinha entrado em alguma casa e quebrado tudo, e tinha que fingir que não era com ela.
– De repente ele queria estar com a macaca. Com alguma.
– Bom, de repente é. Mas ele odiava mulheres humanas. Não sei se de macacas ele gostava.
– É muito instrutivo conversar com vocês.
– Hahaha, que aÃ, quando quiser ter filhos, você fará tudo ao contrário das nossas famÃlias, né? Olha, minha mãe vai fazer 50 anos. Por algum motivo, ela quer uma festa temática. Por algum motivo, ela e os amigos são as únicas pessoas do mundo que não se cansaram de festas anos 80. Eu tenho medo do que eu vou ter que ver em Agosto.
– Se bem que, a minha famÃlia… Um tio meu sumiu 42 anos.
– E ele voltou?
– Sim, ele fugiu da convocação para a 2ª Guerra, acho, e ficou na Região Norte.
– Meu Deus, e se escondeu por 42 anos???
– É, foi ficando… Um dia, 42 anos depois, apareceu lá no Ceará, na cidade natal, e quase matou – de verdade – o outro irmão de susto.
– Meus parentes nunca somem. Nem quando a gente quer.
É turbulenta a percepção da segunda fase do tratamento, mediante traumas e a ameaça do rigor mortis social. Sobrevive-se, para perceber que é necessária a adaptação, e que as coisas continuam, como tudo, sem maiores sublinhas.
E o tempo unge a consciência…
… Mais uma vez…
… E quantas forem necessárias.
Vale também o respirar dos sentimentos, do necessário abandono do improdutivo, e do olhar atento para oportunidades inesperadas. É a melhora.
– Será que ele nasceu assim?
– Não. A mãe estaria no nupercainal até agora.
Com a ininterrupta involução das coreografias calipÃgias, tais dançarinas hão de conseguir encerar o chão.
Ou parafusar alguém.
Teimo com a existência que se pauta pela negação do alheio.
Qualquer chuvinha, e as pessoas, feitas de papel, correndo, empurrando e tumultuando.
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